quarta-feira, março 29, 2006

Jacinta "Day Dreaming" ...

Hoje é a Jacinta que manda!...


Já lançou o seu novo album - "Day Dream", que aconselho vivamente, não só porque a Jacinta tem aquele vozeirão fantástico, que imprime aos temas que canta uma vibração e calor muito próprios, como também pela mistura do reportório que o disco contêm. Senão vejam - de "Duke" Ellington e Monk até Jobim e Djavan passando por Zeca Afonso... e ainda incluí temas com arranjos made by Jacinta her self!

Parabéns Jacinta! Um CD 5 **!

Deixo aqui, para abrir o apetite, o tema "Day Dream"... by Jacinta...


Jacinta - Day Dream

Um must! :)

Bom resto de semana!

Adenda 2006.04.05 22:00 :

Tendo em conta as vossas queixas de não conseguirem ouvir a música que aqui deixei (estranho pq eu consigo!), deixo aqui o link directo para a música:

http://tvtel.pt/pestacio/JacintaDayDream.mp3

Kalinka : Correcto e Afirmativo ! é herself e não himself, of course!

terça-feira, março 21, 2006

Março, 21 - Dia Mundial da Poesia

Hoje é o dia deles, de TODOS eles, da Sophia, do Pessoa, da Natália, do Eugénio, do Ary, do Almada, e de tantos e tantos outros...
que iluminam a nossa existência com as suas palavras,
que me acompanham em tantas horas
tristes e felizes,
de saudade e de euforia,
de dor e de alegria.

Hoje é o Dia Mundial da Poesia.

Viva a poesia! Viva a poesia!



Deixo aqui alguns poemas, para marcar a data.




Poema XVIII

Impetuoso, o teu corpo é como um rio
onde o meu se perde.
Se escuto, só oiço o teu rumor.
De mim, nem o sinal mais breve.

Imagem dos gestos que tracei,
irrompe puro e completo.
Por isso, rio foi o nome que lhe dei.
E nele o céu fica mais perto.

Eugénio de Andrade



Mas que sei eu

Mas que sei eu das folhas no outono
ao vento vorazmente arremessadas
quando eu passo pelas madrugadas
tal como passaria qualquer dono?

Eu sei que é vão o vento e lento o sono
e acabam coisas mal principiadas
no ínvio precipício das geadas
que pressinto no meu fundo abandono

Nenhum súbito súbdito lamenta
a dor de assim passar que me atormenta
e me ergue no ar como outra folha

qualquer. Mas eu que sei destas manhãs?
As coisas vêm vão e são tão vãs
como este olhar que ignoro que me olha

Ruy Belo



Falas de civilização...

Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as coisas humanas postas desta maneira,
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seriam melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as coisas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!

Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)





Sempre a Razão vencida foi de Amor;
Mas, porque assim o pedia o coração,
Quis Amor ser vencido da Razão.
Ora que caso pode haver maior!

Novo modo de morte e nova dor!
Estranheza de grande admiração,
Que perde suas forças a afeição,
Por que não perca a pena o seu rigor.

Pois nunca houve fraqueza no querer,
Mas antes muito mais se esforça assim
Um contrário com outro por vencer.

Mas a Razão, que a luta vence, enfim,
Não creio que é Razão; mas há-de ser
Inclinação que eu tenho contra mim.

Camões



Mal nos conhecemos

Sempre a Razão vencida foi de Amor;
Mas, porque assim o pedia o coração,
Quis Amor ser vencido da Razão.
Ora que caso pode haver maior!

Novo modo de morte e nova dor!
Estranheza de grande admiração,
Que perde suas forças a afeição,
Por que não perca a pena o seu rigor.

Pois nunca houve fraqueza no querer,
Mas antes muito mais se esforça assim
Um contrário com outro por vencer.

Mas a Razão, que a luta vence, enfim,
Não creio que é Razão; mas há-de ser
Inclinação que eu tenho contra mim.

Alexandre 0?Neill




Soneto

Fecham-se os dedos donde corre a esperança,
Toldam-se os olhos donde corre a vida.
Porquê esperar, porquê, se não se alcança
Mais do que a angústia que nos é devida?

Antes aproveitar a nossa herança
De intenções e palavras proibidas.
Antes rirmos do anjo, cuja lança
Nos expulsa da terra prometida.

Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,
Antes o olhar que peca, a mão que rouba,
O gesto que estrangula, a voz que grita.

Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora,
Do monstro que inventámos e nos fita.

Ary dos Santos




Nuvens correndo num rio

Nuvens correndo num rio
Quem sabe onde vão parar?
Fantasma do meu navio
Não corras, vai devagar!

Vais por caminhos de bruma
Que são caminhos de olvido.
Não queiras, ó meu navio,
Ser um navio perdido.

Sonhos içados ao vento
Querem estrelas varejar!
Velas do meu pensamento
Aonde me quereis levar?

Não corras, ó meu navio
Navega mais devagar,
Que nuvens correndo em rio,
Quem sabe onde vão parar?

Que este destino em que venho
É uma troça tão triste;
Um navio que não tenho
Num rio que não existe

Natália Correia




Que nenhuma estrela queime o teu perfil

Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.

Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.

Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, março 20, 2006

Chegou a Primavera

VI

Vai alta no céu a lua da Primavera.
Penso em ti e dentro de mim estou completo.
Corre pelos vagos campos até mim uma brisa ligeira.
Penso em ti, murmuro o teu nome; e não sou eu: sou feliz.

Amanhã virás, andarás comigo a colher flores pelo campo,
E eu andarei contigo pelos campos ver-te colher flores.
Eu já te vejo amanhã a colher flores comigo pelos campos,
Pois quando vieres amanhã e andares comigo no campo a colher flores,
Isso será uma alegria e uma verdade para mim.

06/07/1914
Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

Chegou hoje a Primavera!
Tempo de renovação, ar, sol...
Celebre-mos a Primavera!
(bem, o tempo não está muito condizente, mas ainda assim...)

Boa Semana para todos! :)

quinta-feira, março 16, 2006

Um anjo caído... A.Garrett

Relendo poesia que me recorda o meu tempo de liceu,
Deixo hoje aqui uma poesia etérea...
De Garrett...
Mais um grande da nossa língua lusa...

O ANJO CAÍDO

Era um anjo de Deus
Que se perdera dos céus
E terra a terra voava.
A seta que lhe acertava
Partira de arco traidor,
Porque as penas que levava
Não eram penas de amor.

O anjo caiu ferido
E se viu aos pés rendido
Do tirano caçador.
De asa morta e sem esplendor
O triste, peregrinando
Por estes vales de dor,
Andou gemendo e chorando.

Vi-o eu, o anjo dos céus,
O abandonado de Deus,
Vi-o, nessa tropelia
Que o mundo chama alegria,
Vi-o a taça do prazer
Pôr ao lábio que tremia
E só lágrimas beber.

Ninguém mais na terra o via,
Era eu só que o conhecia
Eu que já não posso amar!
Quem no havia de salvar?
Eu, que numa sepultura
Me fora vivo enterrar?
Loucura! Ai, cega loucura!

Mas entre os anjos dos céus
Cantava um anjo ao seu Deus;
E remi-lo e resgatá-lo,
Daquela infâmia salvá-lo
Só força de amor podia.
Quem desse amor há-de amá-lo,
Se ninguém o conhecia?

Eu só, ? e eu morto, eu descrido,
Eu tive o arrojo atrevido
De amar um anjo sem luz.
Cravei-a eu nessa cruz
Minha alma que renascia,
Que toda em sua alma pus,
E o meu ser se dividia,

Porque ela outra alma não tinha,
Outra alma senão a minha...
Tarde, ai! tarde o conheci,
Porque eu o meu ser perdi,
E ele à vida não volveu...
Mas da morte que eu morri
Também o infeliz morreu.

Almeida Garrett

Que disfrutem desta leitura tanto quanto eu...
Bom resto de semana! :)

quinta-feira, março 02, 2006

Sim, sou eu! Estou de volta !

Após este interegno de cerca de 1 mês ( já passou tanto tempo!...), cá estou eu de volta.
Espero que não se tenham esquecido da Janela!...
Pelos comentários que vi no último post, parece que não! Ainda bem! obrigado a todos!

Para celebrar o meu retorno, coloco aqui uma versão recitada do Manifesto Anti-Dantas de um dos artistas que mais aprecio e admiro - José de Almada Negreiros - poeta/escultor/pintor e sei lá mais o quê!

O Manifesto é declamado por um grande artista, infelizmente já falecido, e que esteve presente em muitos dos que foram os grande momentos da televisão pública portuguesa.
O seu nome : Mário Viegas


A ambos, autor e actor, faço a minha homenagem!


Manifesto Anti-Dantas de José de Almada Negreiros, declamado por Mário Viegas.


Uma óptima semana para todos! Espero que continuem a passar por esta Janela, apesar da sua/minha irregularidade!